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Foto/Reprodução
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De sorriso largo, Manoela Yres Campos Trapps, 17 anos, cresceu na zona sul de Porto Alegre. Foi ali que cativou amizades, dedicou-se aos estudos e iniciou, empolgada, um curso técnico de marcenaria, que estava prestes a concluir. Ali também cultivou sonhos, como ter o primeiro emprego, ingressar na carreira militar e cursar advocacia. Tudo isso ficou na memória dos familiares, que precisaram se despedir precocemente da adolescente.
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Manu, como era chamada, foi vítima de uma guerra da qual não fazia parte. Foi baleada enquanto participava de confraternização num bar no bairro Campo Novo, no início de setembro. O ataque foi promovido pela fa,cção rival da que domina aquela região. Criminosos armados surgiram repentinamente e desferiram dezenas de disparos contra frequentadores do estabelecimento. Além da jovem, outras duas pessoas foram assassinadas, e pelo menos 25 ficaram feridas.
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— Queria entrar para o Exército e, assim que conseguisse, cursar Direito. Queria ser advogada — conta a irmã mais velha, Sara Campos, 23 anos.
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Manu, que completaria 18 anos no dia 3 de outubro, tinha pressa de viver. Repetia sempre para a irmã: "Só se vive uma vez". Vaidosa, adorava ficar em frente ao espelho se maquiando. As fotografias tiradas pela adolescente são guardadas pela família.
— A Manu era um ser espetacular. Se tivesse que tirar algo dela para te dar, independente de te conhecer ou não, ela te daria. Tinha empatia pelas pessoas. Ela era meu alicerce, minha estrutura. Quando ela se foi, tudo desmoronou. Me levaram tudo — desabafa.
Aquela era a segunda vez que Manu ia com amigos ao bar no bairro Campo Novo, onde ocorria uma confraternização de aniversário do estabelecimento. Preocupada com a violência na região, Sara chegou a alertar a caçula sobre os riscos. Por volta das 20h30min, já no local da festa, a adolescente enviou um áudio para a irmã, insistindo para que ela fosse até lá.
— Ela mandou um áudio, bem faceira: "Vem para cá, vem aproveitar um pouquinho". Mas estava frio e eu precisava acordar cedo no outro dia. Minha tia chegou aqui e me convidou para tomar chimarrão. Então, não fui. E aí, duas horas depois, aconteceu tudo isso. Me senti culpada por não estar lá, para proteger minha irmã mais nova. Mas minha mãe me consolou dizendo que se eu estivesse ela teria enterrado duas filhas e minha filha estaria órfã — diz Sara.
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"Pedi para ela lutar pela vida"

Quando estava prestes a ir dormir, a auxiliar de cozinha soube que um tiroteio havia acontecido no mesmo bar. Apavorada, passou na casa dos pais e rumou às pressas para o local. Quando chegou, encontrou a irmã ainda caída no chão. Entre os feridos, havia outros adolescentes, mulheres e crianças. Sara ainda conseguiu se aproximar e falar com Manu, antes que ela fosse levada pela ambulância.
— Entrei em desespero e uma policial muito querida me deixou chegar perto dela. Pedi para ela lutar pela vida, que a ajuda estava vindo, e que a gente ia voltar para casa. Que a minha filha estava esperando por ela. Falei: respira, respira, vai ficar tudo bem. Ela ficou no hospital até terça-feira e não resistiu. Ela partiu — descreve.
Enquanto aguardava no hospital por informações sobre a irmã, Sara ainda precisou amparar familiares das outras vítimas. Além da adolescente, foram mortos Prisciele Letícia Castilhos Farias, 29 anos, e Dabson Jordan Simões de Moura, 23. Assim como Manu, eles estavam no local se divertindo e não tinham qualquer relação com a disputa entre os grupos criminosos. A filha de Prisciele, uma menina de quatro anos, também foi baleada na ação.
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— O que eles fizeram foi maldade pura. Não tem explicação. Chegar num local, vendo criança, mãe de família, que ia sair para trabalhar no outro dia, e atirar mesmo assim. Infelizmente, depois disso, não esperamos nada. Vai ser mais uma vítima, só pelo fato de estar curtindo um pagode num fim de tarde. Hoje eles são presos e amanhã estão na rua, tirando a vida de outras pessoas inocentes, destruindo outras famílias — lamenta a irmã.
Investigação
O ataque no Campo Novo é investigado pela 4ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Mais de 20 pessoas, entre sobreviventes e testemunhas, foram ouvidas nos últimos dias para entender como se deu a investida dos criminosos. A investigação apurou até o momento que quatro a cinco atiradores participaram da ação.
Segundo o delegado Rodrigo Pohlmann Garcia, o episódio foi uma forma de revide por parte de uma das facções envolvidas na disputa entre grupos criminosos em Porto Alegre.
— Acredito que eles fizeram tipo um revide a algum fato anterior, nessa guerra que está acontecendo. Poderiam saber que na festa havia presença de alguns indivíduos que são vinculados ao grupo criminoso que trafica na região, mas quando chegaram, os disparos na realidade foram contra todos — afirmou o delegado.